Mal-Caráter, 4°

09/11/2011 22:21

O bom de estar com a Cris era a liberdade que eu tinha em ser eu mesma. Continuava ficando com a Vi por miseravelmente gostar dela. Cris ficava comigo, e com a ex geralmente quando eu sumia e dava uma de insensível.
Essas minhas atitudes orgulhosas nunca me levaram a lado algum, mas era mais forte que eu, parte do meu mal-caráter.
Cristina só conhecia minha vida a partir de quando comecei a ficar com Vi, foi tudo o que contei para ela. A pesar de achar bom enquanto durou, meus tempos de canalha haviam acabado, e se não falasse sobre isso não seria relembrado e aos poucos deixaria de existir.

Comecei a me importar com Cris, a confiar nela (para contar segredos, não fidelidade) e surpreendentemente… gostar.
“Droga, gostar!” Isso realmente me assustava, gostar é o mesmo que tomar a pessoa para si e tudo o que ela faz começa a afetar você, nesse caso à mim, e ela ainda ficava com a ex dela, resumindo, eu iria sofrer.
Como boa pessoa egoísta que sou, preferi me afastar da Cris, deixei meu coração de lado e segui a lógica.
O coração só havia me ferrado, a lógica não poderia ser pior.
Ficamos duas semanas sem nos falar, senti falta, nós nos viamos todos os dias.
Parei também de ficar com Vitória, havia cansado de ser a última opção dela. Sai com Márcia e revivi os velhos tempos, a canalha.

No dia seguinte, com uma enorme ressaca vejo no meu celular uma mensagem. Era da Cris, perguntando por que eu havia sumido.
Quis não esboçar nenhuma reação, mas não fui capaz. Meu coração acelerou e mesmo não querendo fazer nada liguei para ela e marcamos de sair eu, ela e Márcia.
Assim voltamos a nos falar, ela havia brigado de vez com a ex dela por simplesmente não querer voltar a namorar, também fez muitas perguntas de porque eu havia sumido e eu respondia que precisava de um tempo para me organizar. Márcia, que sabia de tudo, apenas ficava ouvindo a conversa.

Como antes, voltamos a nos ver todos os dias depois da faculdade, e quando não tinha compromissos saíamos juntas.
Não tinhamos nenhum relacionamento sério, mesmo assim eu não gostava de ficar com ninguém na frente dela, e ela do mesmo modo, e como eu só saia com ela, acabou que ficava sem ninguém, só com a Cris. No começo foi encômodo, mas depois comecei a achar legal e por último já não me via com outra pessoa além dela, e foi aí que me assustei.
“Me deixei envolver tanto por esta amizade colorida que acabei deixando de controlar a situação, tanto que está fora do meu controle e talvez, eu nem quero pensar nisso, mas talvez eu esteja apaixonada” Sim, sentimentos me assustam e me fazem fazer o oposto do que quero.

Vitória ainda estava no meu pé, mas eu já estava decidida, se era para me apaixonar, que fosse então pela pessoa certa. Sei lá se essa pessoa seria a Cris, mas com certeza não seria a Vi, e foi aí que comecei a me afastar dela pra valer, o que me dificultou um pouco na faculdade, pois era com ela que fazia as provas em dupla e a maioria dos trabalhos.

- Precisamos conversar - disse Cris, num ar de mistério
- Não tenho boas lembranças dessa frase, fala logo o que você quer
- Só quero conversar
- Tudo bem
Nos encontramos no parque e sentamos no banco que dava de frente ao pôr-do-sol, uma imagem linda e romântica.
- Tantos anos morando aqui e nunca havia vindo neste lugar - disse admirando tudo.
Cris tirou uma aliança do bolso do casaco (estava muito frio), colocou entre minhas mãos e perguntou; - O que me diria se eu quisesse aprofundar nossa relação?
“Relação? Que relação? Temos uma amizade colorida, só isso… Ta, estou chocada, admito”.
Eram tantos pensamentos em minha cabeça que não consegui dizer nada, apenas a olhei sorrindo e segurei a mão dela e a aliança firmemente.