Mal-Caráter, 7°

09/11/2011 22:24

Nem aproveitamos o dia, estávamos brigadas.
Descobri que ela tinha medo e raiva de mim. “Merecia ir presa também, mas eu a amo, fazer o que.”
Me entreguei à policia, contei que havia feito Vitória dormir, carregado-a (sozinha) até meu carro e levado seu corpo para o bosque. Duas horas depois havia voltado para a festa (foi o tempo que fiquei conversando sozinha com ela). Tudo se encaixou e ninguém, além de mim, saiu prejudicado.
Peguei seis anos de prisão por ter me entregado e declarado que apenas queria assustá-la, e não fazia idéia que haviam animais selvagens por ali.
Meu advogado conseguiu reduzir para quatro anos, e se tivesse um bom comportamento, poderia sair em um ano e quatro meses, e depois somente dormiria na prisão.

“Depois que eu e Cris completamos um ano de namoro e ela descobriu do homicídio, nossa relação foi de mau a pior.
Poxa Márcia, não sei o que tive na cabeça, mas achei que ela ficaria feliz em saber que a pessoa que ela odiava, jamais iria interferir novamente.
Só que foi o contrário, Cada segundo que se passava Vitória parecia mais presente entre a gente, e as brigas aumentavam.
Quando vim presa, Cris me visitou uma vez, foi triste.
Tudo o que faço aqui é escrever, apanhar e ser assediada, é tão escuro e tem um cheiro horrível, como o inferno eu acho. Pelo menos Vitória parou de me perturbar.
Faltam apenas dois meses e eu posso sair por bom comportamento, mas ainda vou ter que dormir aqui e talvez fazer alguns serviçoes comunitários.
Sabia que jamais vou poder me aposentar? É lei.
Desculpa ter sumido esse tempo todo.
Abraços,
Débora”


Um mês depois recebo duas cartas; abri uma;
“Débora,
Confesso que nem acreditei quando li sua carta, nem sabia se ainda estava viva. Antes presa do que morta, não é mesmo?
Não sei porque, mas não me surpreendi quando vi seu rosto na televisão sendo presa por um assassinato, você sempre foi doidona, era de se esperar.
Agora falando de mim, estou casada e grávida de sete meses, é um garoto.
Conheci meu marido logo após que me mudei, namoramos seis meses e depois noivamos. Ele é um amor de pessoa e está muito empolgado em ser papai.
Não leve a mau, mas não acho bom você se envolver com minha família, está tudo tão bem agora, e você sempre atrai coisas ruins.
Espero que fique livre logo.
Cuide-se,
Márcia”.


Resumindo, perdi a amiga para a droga do amor, pelo menos apareci na televisão, apesar que isso significa que vou ter que mudar o visual.

A outra carta me parecia familiar antes mesmo de abrir;
“Não estou com raiva por você ter sumido, com isso já me acostumei, o que não admito é deixar sua mãe saber que foi presa através de uma notícia no jornal da TV. Achei que fosse me procurar, mas já que não veio, eu vou.
Se prepare para minha visita no dia 14”.


Não conseguia acreditar, minha mãe?
Quase três anos sem contato algum e ela resolve aparecer? Minha vida acabou.

Dia 14 lá estava eu, presa, quando chega minha mãe. Apesar de estar na casa dos quarenta, continuava linda e sedutora, sempre de batom vermelho.
Com aquele ar de superior, ela disse;
- Conheço a filha que tenho, infelizmente. Você é um desgosto para sua família, puxou ao seu pai, aquele canalha. E não serve nem para matar alguém e sair ilesa?
Tentei me justificar, mas ela me fitou com os olhos e prosseguiu falando - Mas não foi para isso que vim aqui, quero lhe propor sua liberdade e mais um dinheirinho extra…
“Minha mãe querendo negociar? Quero nem ver”