Mika, 7°

09/11/2011 22:45

Malas prontas e o coração alegre, faltavam duas horas para seu pai lhe levar ao aeroporto, tudo estava pronto e eles tomavam o café da tarde como despedida. “Qual é papai, são só alguns meses” ele olhava cabisbaixo mesmo tentando esconder sua tristeza.
Minutos antes de Mika colocar as malas no carro de seu pai, Edna visita-lhe e entrega um broche de ouro com uma pedra vermelha. A garota não quis ser hostil, agradeceu, despediu-se de Edna e deixou o broche na casa de seu pai, em uma caixinha de madeira. “Ouro?” riu debochadamente, “Isto está mais para as bijuterias baratas daquela velha louca”. Mika tinha raiva de Edna por ter lhe assustado e falado coisas que não queria ouvir. Ela também odiava a postura mandona e ao mesmo tempo sensível que a velha mantinha.
Partiu para a capital e em poucas horas já estava no aeroporto de lá. Viu muita gente interessante e ninguém quis lhe dar atenção, nem mesmo os próprios funcionários, até porque a atenção que ela precisava chama-se guia turístico. Os taxistas cobravam uma exuberância para levar ao lugar que fosse e mesmo não sendo veraneio, os hotéis perto do mar não estavam com um preço acessível para ela.
Encarou a realidade; precisava se recompor e voltar para as passarelas. Ligou para sua ex amada e lhe foi insuportável ouvir o simples “Alô?”, desligou e mandou uma mensagem pedindo ajuda para conseguir algo onde estava, e ela lhe retornou informando que providenciaria com o maior prazer.
Dois dias passados e estava o jornal o nome de Mika dizendo que ela havia ‘voltado’ à ativa, sendo que na verdade mal teve ido. Sim, ela era uma ótima profissional, mas hesitava em aceitar trabalhos grandes, e agora estava disposta a fazê-los.
Recebeu várias ligações e propostas generosas, resolveu aceitar uma companhia que tirava fotos para produtos em revistas e desfilava com roupas de lojas locais para as promoverem.
Ia à praia sempre que o tempo permitia, e a cada dia sentia-se mais só. Se lembrou de um dos sonhos que teve depois que partiu, Edna entregou-lhe um broche e com desdém ela o guardou no bolso e levou consigo para a viagem. Ela riu daquilo tudo e a curiosidade matou-lhe de desejos, correu até suas roupas sujas para conferir o bolso da calça. Não, nada de broches por ali. Aliviada, sentou na janela e viu uma exposição de quadros mais adiante, decidiu apreciá-los.
Quase quarenta quadros em um ambiente relativamente pequeno e bagunçado. Olhou para a meia dúzia de pessoas que estavam por ali e foi sussurrada por uma garota esbelta, loira e dos olhos róseos, “Quem você acha que é o autor?”, Mika sorriu envergonhada enquanto sentia suas bochechas ficarem rosadas; apontou para um rapaz desajeitado do cabelo grande. A garota riu “Não mesmo. Tente novamente”. Procurou ao redor e apontou para uma senhora do vestido longo e meias coloridas. A garota olhou Mika seriamente, “Sou eu.”
Mika olhou-a sem acreditar, ela era loira naturalmente e estava com suas roupas perfeitamente em dia; m saltinho básico e vestidinho tom pastel estilo batinha. “Você?” recriminou a jovem. Ela assentiu e estendeu a mão “Prazer, Ema. Verá minha assinatura nos quadros” disse orgulhosa de si mesma.